quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A luta contra a burguesia golpista em Honduras vive um momento decisivo

Mesmo diante do estado de sitio, decretado por Micheletti no último final de semana, que suspende todos os direitos de manifestação, organização e informação, durante toda esta semana estão ocorrendo manifestações de rua que enfrentam abertamente o regime militar. Agora, o mesmo empresariado que orquestrou e apoiou o golpe diante da desconcertante resistência do povo hondurenho começa a falar na necessidade de negociar.


Micheletti, durante esta semana, ao perceber que o endurecimento do regime não surtiu os efeitos desejados começa, também, a mudar o tom e diz não descartar a volta ao poder de Zelaya. Vivemos momentos decisivos da situação política em Honduras e do conjunto da situação política latino-americana. A crescente polarização entre uma heróica resistência popular que se estende e consolida, por um lado, e o governo de Roberto Micheletti, com apoio da grande patronal, por outro, alcançou níveis de tensão inéditos. Mas. o desdobramento ainda está por se definir!

Os trabalhadores e o povo Hondurenho dão seguidamente exemplos de uma heróica resistência, que se manifesta em ações cotidianas de desafio ao aparato repressivo do governo golpista, em um claro sinal que não vão recuar na luta para derrubar o golpe de estado fascista.

O aumento da tensão e o endurecimento da repressão por parte do regime - que já custou de 5 a 10 mortos, mais de 200 feridos e 2.000 prisões -, o aumento do isolamento internacional dos golpistas e o maior fôlego da mobilização popular, a partir da volta de Zelaya, colocam concretamente a possibilidade de um desenlace da crise onde as massas exploradas e oprimidas hondurenhas sejam protagonistas. Ou seja, que derrubem pelas suas próprias forças os golpistas e abram, dessa maneira, um cenário que questione a institucionalidade burguesa regional e mundial e aponte para a construção do poder dos trabalhadores em Honduras.

O que mais tem aterrorizado a classe dominante em Honduras, e no continente, é que a resistência popular passe à ofensiva colocando em questão “instituições” que garantem os seus interesses materiais. É por isso que existe uma unanimidade continental na defe’sa do Acordo de São José de Costa Rica que restituiria Zelaya, reduzindo a tensão e mantendo intactas as mesmas instituições que produziram o golpe e todos os seus crimes.

O problema é que para o campo dominante internacional o curso direitista da burguesia hondurenha e do seu governo de fato, Micheletti, não possibilitou que fosse aberta uma negociação real, pois os golpistas só buscaram nestes meses ganhar mais tempo diante da pressão do movimento de massas. E quando a mobilização popular deu um salto, a reação do governo foi recorrer à repressão.

Vivemos uma situação política impar, pois a consolidação de uma saída ultra-reacionária e repressiva ou, em outra hipótese, um grande triunfo das massas contra o golpismo pode mudar a dinâmica política da região, mesmo que este segundo cenário possa dar lugar, ocasionalmente, a variantes intermediárias, inclusive a possibilidade da volta pactuada de Zelaya. É fundamental ter claro que qualquer desdobramento não reacionário só pode ocorrer pela ação das massas e dos trabalhadores de Honduras, pois ao depender das ações “diplomáticas” haveria, certamente, a consolidação do golpe de Estado em Honduras com terríveis repercussões para toda a América Latina.

Quem protagoniza esta luta exemplar é o movimento de massas hondurenho. Hoje a única instituição realmente democrática e de massas existente em Honduras é a Frente Nacional de Resistência Popular. É por isso que não se trata de devolver Zelaya um mandato, mas, sim, de construir as bases para uma transformação política e social profunda do pais em cima de uma vitória contundente dos trabalhadores e setores populares. Esta tarefa só pode ser iniciada por uma Assembléia Constituinte, convocada por um governo provisório da Frente Nacional de Resistência Popular, que ponha abaixo todo o aparato político-militar das oligarquias hondurenhas.

Ao contrário do que afirma a ampla maioria das análises que circulam pela mídia dominante, o que está em jogo em Honduras é muito mais do que a recondução ou não de um governo “populista” na América Central. Na verdade, o desenlace da crise institucional em Honduras vai influenciar diretamente a situação política da América Latina, que hoje vive uma situação indefinida, podendo pender o pêndulo para a direita, se as massas forem derrotadas, ou para a esquerda, se o governo golpista for derrubado.

Por essa razão todas as forças da esquerda revolucionária e socialista e, também, todas as organizações que se dizem democráticas devem colocar de pé uma campanha nacional e internacional de apoio concreto ao povo hondurenho na sua luta contra o golpe encabeçado por Micheletti. Podemos iniciar esta tarefa com uma grande Jornada Antifascista Continental de apoio a resistência hondurenha contra o golpe.

Não é Zelaya e nem a “comunidade internacional” os que enfrentam o regime, os que sustentam de fato os direitos democráticos da população, os que enfrentam as balas do exército, os que enfrentam a medidas repressivas, os que defendem os meios de comunicação anti-golpistas. A tarefa que está colocada como central neste momento e que expressa o sentimento e o interesse das massas e dos trabalhadores é derrubar os golpistas através de uma Greve Geral para derrotar o regime, além da prisão e a punição exemplar para todos os golpistas e seus cúmplices, começando pela grande patronal.